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Não, Pokémon Go NÃO virou um mapa da desigualdade

13 ago , 2016  


Análises sociais são importantes, mas elas precisam ser feitas com cuidado.

Por Matheus Gonçalves

Recentemente li um post de um site que eu gosto bastante até, que é o Catraca Livre, comentando como o jogo Pokémon Go teria virado um mapa da desigualdade em São Paulo.

Pra isso, o autor do texto apresentou duas imagens alarmantes. A primeira, com muitos pontos de interesse de Pokémon Go na região da Avenida Paulista, e a segunda no Capão Redondo (abraço pros mano desse lado da ponte).

 

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Realmente é assustador quando a gente vê somente essas duas áreas. Resolvi investigar. Sabe como é, a gente precisa aplicar nosso ceticismo e pensamento científico. Principalmente quando o que nos está sendo apresentado é algo que a gente concorda (neste caso, que existem divisões sociais em São Paulo). Claro que existem, mas será que isso está sendo replicado mesmo em Pokémon Go?

Primeiro de tudo abri o bairro do Capão Redondo no Ingress Intel pra ver se existiam pontos como PokéStops lá… E, bem…

 
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Bom… então em vez de comparar a Avenida Paulista com bairros de periferia, resolvi comparar com bairros ricos, usando o The Pokemon GO Map, por contar com uma comunidade muito maior. Ainda assim, pra efeito de comparação, vamos mostrar a região da Avenida Paulista como esse mapa exibe:

 
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Agora vamos para as áreas nobres. Por exemplo, a Granja Viana:
 
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E no Morumbi?

 
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Moema, talvez:

 
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Ué… Esses mapas, segundo a linha de raciocínio de que o jogo teria mais pontos em bairros ricos, deveriam estar ao menos parecido com a região da Paulista apresentada acima. Por que não está?

Deve ser o mapa então, né? Bom, vamos abrir, agora no Mapa Pokémon Go, uma outra região que não é de bairros ricos, mas que possui uma circulação enorme de pessoas. Ali pros lados da Estrada de Itapecerica:

 
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Um número surpreendente de PokéStops, existentes ou não, dentro do mapa.


É… não é distribuído por desigualdade social. Mas, Toad, o que é então?

Existem vários fatores a serem levados em consideração aqui como possíveis determinantes para escolha das localidades. O primeiro de todos é que nenhum desses mapas é 100%, uma vez que eles só mostram os Pokémon que os usuários do site reportam. Logo, regiões com mais usuários destes mapas tendem a mostrar mais pontos. Isso não quer dizer imediatamente que essa região tem mais ou menos PokéStops ou Pokémon.

Mas, de forma geral, os pontos do Intel foram distribuídos conforme a geo-localização do que era utilizado no Ingress.

Bem no começo dessa plataforma, era possível sugerir à Niantic, através de um hotsite da empresa, os locais onde os portais poderiam ser colocados. Esses portais são os mesmos que se tornaram PokéStops no jogo Pokémon GO. Sendo assim, alguém que mora na zona metropolitana de São Paulo, mas que trabalha e passa a maior parte do seu dia na região da Paulista, poderia ter sugerido pontos próximos à Paulista, por exemplo.

Outros fatores possivelmente foram colocados na mesa também, como o número de pessoas que trafegam por ali, eventuais futuros jogadores, e também pelo poder comercial da região. Coisas que poderiam render ao jogo algo, no futuro, como publicidade com Realidade Aumentada.

Assim, eu entendo toda a necessidade, novamente, de se ponderar a respeito de quão justa é a nossa sociedade. Mas o mapa vai mostrar mais pontos onde tem mais gente reportando, e o jogo vai ter mais monstrinhos e PokéStops onde circula mais gente, e onde tinha mais gente colaborando com a Niantic, é simples assim. Mantenha em mente, portanto, que Pokémon Go é um serviço, de uma empresa que possui fins lucrativos. Evidentemente vão existir, de qualquer forma, mais pontos do jogo em áreas comerciais que áreas residenciais.

Importante: de forma independente à renda per capta dos moradores daquela região, como os mapas acima evidenciam.

Acho importante você questionar sempre se esse tipo de segmentação está acontecendo, mas sempre, SEMPRE com pensamento científico e ceticismo. Usar apenas dois mapas pra provar seu ponto, sem analisar o todo, é incompletude do trabalho, ingenuidade ou má intenção.
 
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Pra fechar…

Pelo amor de Zeus, não me venham com briguinha de Direita vs Esquerda aqui. Nem tudo é sobre esses extremos da régua de posicionamento político. Isso não é “a esquerda mal intencionada” nem “a direita alienada“. Isso é apenas uma análise sobre como pensar melhor os dados que nos são apresentados. Certo?

Menos desunião e mais cooperação, é disso que a gente precisa.

A tempo, comentamos esse assunto no ToadCast 012, exatamente no minuto 8:40.


Ouça também: ToadCast 009 – Pokémon Go em NYC, a visão de quem joga e quem não joga!

 
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