O fabricante de brinquedos Takara Tomy está participando de um evento de produtos customizados no…
Hoje vamos falar da Tectoy, provavelmente a empresa brasileira que mais impactou a história de games em nosso país.
Por Matheus Gonçalves
No trigésimo episódio do ToadCast, o Renan Silva e eu conversamos sobre a Tectoy, uma empresa que, até a data de publicação deste post, estava prestes a completar 30 anos. E ela já deu muita alegria pra gente que é fã de videogame no Brasil.
Para ouvir o episódio, use o player abaixo:
Se você nunca ouviu falar da Tectoy, essa é uma empresa que foi de suma importância na distribuição e popularização de games no Brasil por causa de seus consoles, quase todos licenciados pela Sega. Estamos falando aqui desde o Master System, Mega Drive, passando pelo Sega Saturn e até o Pense Bem e o Zeebo. Mas calma lá….
Pra gente começar a falar da Tectoy aqui, precisamos dar uma contextualizada no cenário: estamos falando de um Brasil nos anos 80, onde o principal nome na indústria de brinquedos era a Estrela. Um argentino chamado Daniel Dazcal, que até então era vice-presidente da Sharp do Brasil, decidiu dar uma guinada na carreira e saiu pra ser consultor na área de eletrônicos.
A Estrela tentou se aproximar do cara, mas em vez de ir trabalhar pra Estrela, num rompante de empreendedorismo inovador disruptivo e visionário, (usando palavras de algumas fraudes ambulantes que existem aí), foi lá e de fato fez algo concreto. E assim nasceu a Tectoy.
A Gradiente já tinha tentando explorar esse mercado, se aproximando dos japoneses depois de terem conseguido um considerável sucesso de vendas com sua versão do Atari 2600, através da Polyvox.
Mas foi a Tectoy, como uma empresa de brinquedos, que conseguiu a atenção da Sega, principalmente porque quem fazia o Master System nos Estados Unidos também era uma empresa de brinquedos, que era a Tonka. Sim, a mesma dos triciclos.
No mundo inteiro, a Sega tava numa briga constante com a Nintendo. No Brasil essa disputa se acirrou por volta de 1993, entre a Tectoy e a Playtronic (uma parceria entre a Gradiente e a Estrela), a primeira empresa a fabricar videogames da Nintendo fora do Japão.
Mas a Tectoy já tava nesse mercado desde 1988, por causa da Pistola Zillion e depois, com enorme sucesso, sem precedentes no mundo todo, do Master System, começando a ser comercializado em 89. Mas vamos por partes!
Uma pistola da Sega, não confundir com a Light Phaser, que, claro, teve um anime pra ajudar a vender, que chegou a ser exibido no Brasil NA GLOBO em 1987, vou deixar o vídeo do primeiro episódio no post:
Comercial:
Anime na Globo:
Segundo o presidente do conselho da Tectoy, Stefano Arnhold, esse foi o primeiro sucesso da empresa no Brasil, vendeu relativamente bem. O sr Arnhold substituiu Daniel Dazcal que faleceu em 1994.
Certamente o maior sucesso da Tectoy. Pra ter uma ideia, em 89 faturamento da empresa passou dos 66 milhões de dólares. METADE desse valor veio do Master System.
Isso por causa de um investimento agressivíssimo em marketing e publicidade na campanha de lançamento, em Setembro, até o Natal. Uma empresa de brinquedos, investindo 2 milhões de dólares em publicidade, foi algo nunca DANTES visto no Brasil.
E, numa época sem Internet, pro Master System a Tectoy ainda montou uma central de atendimento chamada Hot Line, que vc podia ligar e pedir dicas pra passar dos chefes e sempre tinha uma pessoa pra te ajudar. Tinha o clube de sócios chamado Master Clube e ainda enfiaram um programa de TV na Globo, chamado Master Dicas, nos intervalos da Sessão Aventura e o Vídeo Game Show, um quadro no meio do Vídeo Show, apresentado por Miguel Falabella e Cissa Guimarães:
Uma curiosidade é que o Brasil é o maior mercado que o Master System já teve NO MUNDO. Fora do Brasil o Nintendinho reinava solitário enchendo as burras da Nintendo de grana.
Comercial “Compacto até no preço”:
Comercial do Master System 3 da @tectoyoficial. Compacto até no preço! Lembram disso?https://t.co/1Avulkflxl pic.twitter.com/rT6ebzPsnd
— TOAD (@toadgeek) November 7, 2016
Uma curiosidade aqui é que a Tectoy, além de licenciar jogos pros seus consoles, também trabalhava pra adaptar alguns deles dando uma cara mais Brasil, como o Mônica no Castelo do Dragão, que foi feito em cima do Wonder Boy in Monster Land e Chapolim x Drácula, feito em cima do Ghost House.
A ideia do jogo com a Mônica partiu da Tectoy, que levou a proposta para Maurício de Souza que aceitou de imediato https://t.co/Ox5ZqRhnyx pic.twitter.com/onRlxxaI5l
— Tectoy Oficial (@tectoyoficial) November 6, 2016
Gameplay Monica:
Gameplay Chapolim:
Em setembro de 1990 a Tectoy levou pro Brasil o Genesis, chamando ele de Mega Drive, que também fez sucesso no país. Pra quem nunca ouviu, a gente fez um ToadCast sobre essa disputa entre os consoles de 16 bits, ouça:
O Mega é, junto com o Super Nintendo, meus consoles favoritos tipo, pra vida. Mas, pra gente ter uma ideia do contexto de tecnologia no qual esse video game existia,
ele tinha um processador da Motorola de barramento 16 bits, frequência de 7,68 MHz. Tipo, seu celular tem mil vezes isso, se bobear. E os jogos precisavam ser menores que 4MB pra caber no cartucho. Q-U-A-T-R-O M-E-G-A.
E o Mega Drive era um videogame que se tornou meio que modular, depois do lançamento do SEGA CD, o Multi-Mega CDX e o Mega 32x, (que a Tectoy levou pro Brasil e) que dava ao Mega Drive todo um novo mundo de possibilidades, desde que vc não se importasse em manter um videogame de Frankenstein na sala.
Inclusive, sobre o Mega Drive, a Tectoy anunciou em Outubro de 2016 o relançamento do console, agora com 22 jogos na memória, entrada pra cartuchos e, o mais legal, entrada pra cartões de memória, que te permitem enfiar todos seus ROMs legalmente adquiridos pra jogar, mesmo que você não tenha o cartucho.
E é preciso ser dito que a Tectoy tem uma não-tão-agradável mania de se inspirar no Hardware da ATGames pra fazer seus consoles retrô, e a AT Games não faz videogames, ela destrói infâncias. Quando você abre o site da AT Games e vai ler aquelas seções de Missão, valores, tá lá descrito:
“DIZIMAR AS LEMBRANÇAS DOS ANTIGOS JOGADORES DA SEGA ATRAVÉS DE UM HARDWARE QUE ESCROTIZA A QUALIDADE DO ÁUDIO, DO VÍDEO E INPUT DOS CONTROLES.”
*
*Carece de fontes. Mas tá lá!
Sério, é bem ruim.
Comparativo 1:
Comparativo 2:
E a minha esperança é que esse novo Mega Drive não tenha nada da ATGames nele. Segundo a Tectoy, eles não vão usar emuladores, mas nada foi dito sobre qual chip de som vai estar na placa mãe. Fora isso, o ponto que mais me incomoda é o preço: R$ 449 é muita grana pra um videogame assim. Há opções mais baratas no mercado para quem quer matar saudade dos clássicos dessa plataforma e espero que a Tectoy perceba isso a tempo.
Eu quero comprar, mas por R$ 449 não dá. R$ 150, Tectoy, faz por 150!! Me ajuda a te ajudar.
Comercial Mega Drive (Street Fighter, Mortal Kombat, Carmen Sandiego):
Pense Bem foi um brinquedo bem popular no Brasil no fim da década de 80, inspirado no americano Smart Start (que não é da Sega, é da Vtech) e que tinha um monte de atividades educacionais embutidas, nas quais você tinha que seguir um livro e acertar as perguntas.
E esses livros tinham temas de Matemática, Geografia, história, mas outros livros eram inspirados em personagens da própria Sega, como o Sonic. No Brasil a Tectoy também licenciou livros com atividades do Pato Donald e da Turma da Mônica. Esse eu tenho aqui na minha coleção.
Lembra da Estrelinha Mágica? E do Sapo Xulé? Cujo gimmick era um sapo que você tirava o sapato e ele fedia. E as pessoas compravam essa porcaria!
Entre 1997 e 2001 a Tectoy entrou no modo Extreme Hard Ultra Nightmare por causa de uma crise financeira que começou lá no sudeste asiático e atingiu sem dó mercados emergentes, como o Brasil.
Aí o governo aumentou a taxa de juros, os investimentos foram caindo, pessoal passou a tirar dólares do mercado brasileiro, isso foi quebrando o país. Isso, claro, fez com que o poder de compra do povo diminuísse, todo mundo tava quebrado, em dívida. Lojas XICANTES como Mappin e Mesbla fecharam as portas e muita gente deu calote na Tectoy. Mesmo. E menos pessoas estavam comprando games.
Menos pessoas estavam comprando qualquer coisa que não fosse comida, na verdade hahahaha Não foi tão ruim quanto a época da inflação dos meio dos anos 80 mas foi suficiente pra quebrar as pernas da Tectoy e outras empresas de brinquedos ou eletrônicos. Em 97 a Tectoy entrou em Concordata preventiva, passou a negociar suas dívidas, simplificou total sua cadeia de produção, cortou custos e o número de empregados. Quase 90% dos funcionários foram mandados embora, pensa!
O Dreamcast foi lançado nessa época, todo capado pra cortar custos, e ainda assim custando R$ 900. Mesmo assim ele chegou a vender 20 mil unidades e ajudou a tirar um pouco do sufoco da Tectoy.
Desde 2001 a empresa vem se recuperando bem. A concordata foi encerrada em Outubro de 2000, e eles passaram a trabalhar com produtos eletrônicos mais rentáveis, como players de DVD, aparelhos de videokê. Rolou um rebranding, mudaram o logo, e em 2006 eles entraram pro mercado de jogos mobile, junto com a Level Up! Que na época fazia sucesso com o Ragnarok. Mas essa pareceria não deu muito certo.
Até setup box da Sky a Tectoy fez. E o Zeebo tentou concorrer com as então fortíssimas Microsoft, Sony e Nintendo no Brasil, mas teve que encerrar as vendas porque não deu certo.
Em 2010 eles até investiram em TVs de Tubo com 12 jogos na memória. Mas, pô, em 2010 tvs assim já eram vistas como algo do passado. Infelizmente, isso também não deu muito certo. Tentar leiloar suas ações não deu muito certo, então eles continuaram investindo em licenciamentos para novos produtos. Assim ela entrou de cabeça no mercado de tablets, com personagens da Disney e desenhos infantis como a Galinha Pintadinha. Aliás, boa parte do faturamento atual da Tectoy vem desses tablets.
Além disso, eles investiram em mercado de baby care, com babás eletrônicas, e produtos para bebês da Fisher Price.
Bem longe do mercado de games, certo? Mas isso tem feito a Tectoy se recuperar e os números atuais trazem otimismo, o que é bom. E eles continuam com consoles com jogos na memória e a grande aposta pra 2017 será o novo Mega Drive.
A pergunta que fica é se isso será capaz de trazer a Tectoy de volta pro mercado de games. O que vocês acham?
No mais, vida longa e próspera à Tectoy!
featured, Genesis, Master System, Mega Drive, retrogame, Tec Toy, Tectoy
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