Modelo computacional interpreta imagens de ressonância magnética e consegue enxergar o que o indivíduo está pensando.

Por Matheus Gonçalves

Quando o assunto é leitura da mente, imediatamente penso em quadrinhos como X-Men, filmes com personagens de poderes psíquicos e outros ícones da cultura Sci-Fi. Mas a verdade é que este tipo de habilidade se torna mais real à cada dia. Do controles de objetos com ondas cerebrais à la Jedi, à de fato, ler o que se passa na cabeça da pessoa. É o que está sendo desenvolvido na Radboud University Nijmegen, que fica na Holanda.

 

 

Cientistas da instituição encontraram uma maneira de ler a mente das pessoas. Sim, exatamente. Eles conseguiram decodificar letras de um alfabeto para o qual o paciente em análise estava olhando, através de ressonância magnética, com um modelo matemático especial, após ensinar para a inteligência artificial escolhida alguns padrões de imagens que representam os caracteres.

Segundo o documento científico, que pode ser lido na íntegra aqui (e custa US$ 31,50, mas a curiosidade deste que vos escreve acabou falando mais alto que a conta poupança), os pesquisadores criaram uma forma de discernir letras obtidas em uma varredura do cérebro do sujeito.

A ideia é distribuir o córtex visual em uma matriz com 1200 blocos de 2mmx2mmx2mm (pixels em 3D denominados voxels), que acendem e apagam enquanto a pessoa está olhando para uma determinada palavra ou distribuição do alfabeto.

Os segmentos individuais se iluminam de acordo com o padrão ensinado, para cada uma das letras determinadas, ordenadas sob o padrão, de acordo com o que a pessoa está olhando.

O modelo matemático criado por eles manipula então os resultados da ressonância, combinando todas as informações dos pixels dos voxels, reconstruindo então a imagem vista pelo sujeito. Tá, não exatamente a mesma coisa, as imagens obtidas ainda são um pouco turvas, mas mostram a forma da letra de uma maneira legível por qualquer humano. Que saiba ler, claro. Explico já.

 

 

Resumindo: A pessoa olha para uma determinada palavra (no estudo, pequenas imagens com letras feitas à mão), obtém-se a ressonância magnética (MRI), interpreta-se a MRI, combina-se os voxels e voilá: A palavra é recriada pelo computador. Com o poder computacional que temos hoje, utilizando-se clústeres (neologismo, trabalhamos) de processadores, podemos ter resultados em apenas alguns instantes.

O ensinamento prévio dos padrões das letras pode parecer uma trapaça, como os próprios cientistas supõem, mas serve como base para entendermos o reconhecimento humano de letras e símbolos, baseado apenas em nossa memória:

“Nossa ideia é similar ao que acreditamos acontecer em um cérebro real, que combina conhecimento anterior, com informações sensoriais. Por exemplo, você é capaz de reconhecer as linhas e curvas deste documento como letras, mas somente se você já aprendeu a ler. E isso é exatamente o que estamos procurando: modelos que demonstrem o que está acontecendo no cérebro sob uma ótica realista.” – explica um dos autores. Que completa: “Esperamos melhorar este modelo de forma que a gente consiga aplicá-lo também para trabalhar com conceitos como memória e experiências subjetivas, como sonhos e devaneios“.

Além disso, este estudo linear com a reconstrução de imagens processadas à partir de atividade cerebral promete se tornar ainda mais preciso com a futura construção de um Scanner capaz de gerar imagens da ordem de 15 mil voxels.

Pra quem é programador ou trabalha com desenvolvimento, fica a dica aqui do Jemris, que é um framework de simulação escrito em C++ (open source) e que faz o sequence design de MRI. Já usei em um dos sistemas que criei para uma empresa do ramo da saúde, é bem documentado e funciona. Recomendo pra quem tiver que se enveredar pela área.

[via Radboud University Nijmegen]  

ciência, Jedi, leitura da mente, MRI, poder da mente, Ressonância Magnética, X-Men, Xavier

---