Corram para as colinas, agora eles podem se camuflar!
Uma história épica de decepção, roubo de arte alheia e logotipos duvidosos.
Por Matheus Gonçalves
Todo mundo que já fez um site novo, abriu uma empresa, um time de futebol para os colegas da escola ou faculdade, um blog, serviço, qualquer coisa que precisasse de uma representação visual, já se perguntou: “Qual vai ser nosso logotipo?”
O designer Sacha Greif, autor do texto original que inspirou este post, sabe muito bem como isso funciona. Nascido em Paris, mas trabalhando em Osaka, no Japão, ele conhece esse mercado há anos.
E não, ele não é filho da Chucha.
Ele sabe, portanto, que nos últimos dois anos a procura por um bom designer tem aumentado sensivelmente. Um salário de um profissional de excelência nesta área, em São Francisco, pode passar dos US$ 100 mil.
Mas não é nisso que vamos focar aqui hoje. Em vez disso, vamos acompanhar a aventura que Sacha teve ao explorar um universo novo, a selva do super-barato, buscando a resposta para a pergunta: “o que acontece quando você paga US$ 5 para projetar seu logotipo?”.
E a resposta varia do óbvio ao surpreendente. Acompanhe comigo essa história épica de decepção, roubo de arte alheia e logotipos duvidosos.
Sacha é o fundador do site Folyo, que ajuda a conectar startups com uma seleção de bons designers que trabalham como freelancers. (Nossa, esse post vai ficar um festival de termos em inglês, me desculpem, vou tentar traduzir o maior número de coisas possível).
Bom, ele sabe que o valor de um projeto, mesmo nestes termos, passa costumeiramente dos US$ 1000, dependendo da complexidade do trabalho.
Qual não foi sua surpresa ao descobrir que um site chamado Fiverr (sugestivo, não?) oferece este mesmo serviço pela bagatela de cinco doletas?
Por que você pagaria US$ 1000, quando você conseguiria 200 logos pela mesma quantia? Ao mesmo tempo, como alguém consegue viver criando logos por esse valor tão baixo? Ok, vamos investigar a concorrência!
A tempo, obviamente a Fiverr é concorrente direta da Folyo, mas isso não diminui a qualidade desta leitura, o experimento é válido!
Certo… E como fazer isso? Fácil…
O autor resolveu bolar a ideia de uma empresa fake, chamada SkyStats, que seria responsável por um app para um site de viagens.
“Não me pergunte o que significa ‘análise de mercado para sites de viagens’. A parte importante é que este nome estava evocando itens como aviões, nuvens, gráficos… Por US$5, eu não queria que a pessoa tivesse que pensar muito para chegar a uma metáfora.”
Agora a parte divertida: achar os três designers sortudos que seriam contratados e receberiam os US$ 5. E aí encontramos o primeiro problema.
Enquanto navegava pelo Fiverr, Sacha pôde encontrar um pessoal mostrando trabalhos excelentes, mesmo. Mas ao dar um scroll em seu portfólio, a qualidade das obras caía muito depois de algumas páginas.
Veja, é o trabalho do mesmo candidato vai do muito interessante:
Ao completo amadorismo do clip-art:
Depois de perceber que esse é um padrão que se repete em alguns perfis, uma coisa ficou evidente: esses usuários estavam se apropriando do trabalho de outros designers, e exibindo como se fossem seus.
Uma busca rápida no Google revelou que o logo da Lammtara (amarelo, do cavalo) foi feito na verdade pelo artista Ameer Magdy. Confira neste link.
Esta prática é, claro, um grande sinal vermelho na comunidade de profissionais do segmento e é usada para enganar clientes em potencial. Outra coisa, isso parece povoar o banco de dados da Fiverr.
“E eu entrei em contato com eles pra alertar sobre isso e nunca recebi qualquer resposta” – disse Sacha.
Depois de garimpar, ele conseguiu encontrar três candidatos que não estavam roubando trabalho dos outros (até onde ele pôde verificar), e enviou aos três a seguinte mensagem:
“Somos a SkyStats, uma startup com sede em Boston e Tóquio. Estamos construindo uma plataforma de análise de dados para sites de viagens (como Expedia e Kayak), para ajudá-los a monitorar visitas, vendas e agendamentos de vôos e hotéis.
Queremos um novo logo para nosso futuro site de marketing. Estamos procurando por algo clean e moderno que expresse o que fazemos. Talvez algo com algum avião ou nuvem, que represente uma viagem? “
E, bem, chegando na hora do pagamento, uma surpresinha : além da taxa de US$ 5 pelo logo, você precisa pagar quantias maiores por serviços “extras“, como receber os arquivos das imagens originais (o que, convenhamos, é um requisito para quem deseja fazer uso do logo em qualquer coisa que seja).
Ainda assim, o objetivo desse experimento era ver o que se conseguia com US$ 5, então ele escolheu a opção mais barata, paga por PayPal. E começou a esperar.
Depois de 8 dias, chegou o primeiro resultado. Nada animador… veja:
Um dia depois, chegou o logo do segundo designer:
Sem comentários…
E ele teve que esperar o total de 14 dias pra receber as imagens do último candidato:
(Lembrando que entrega mais rápida era um dos itens “extras” que você poderia ter escolhido no momento do pedido).
Ok… os logos variaram do ruim-dentro-do-esperado ao surpreendentemente-bom. Principalmente esses dois últimos. Eu achei muito legal, Sacha também.
E o último cara não só mandou logos decentes, como também enviou versões em alta qualidade, mesmo que ninguém tenha pago a mais por isso. O contraste fica pelos dois primeiros designers que enviaram imagens de baixa qualidade, chapadas num fundo com textura, o que inviabiliza seu uso. Ou deixa as coisas muito mais difíceis.
A história poderia ter terminado aqui. Com um logo bom de US$ 5. Se não fosse pela sempre presente força da vigilância do bem (Ok, nem sempre), chamada comentaristas de Internet. Eu não disse comentaristas de portal, perceba.
O post original recebeu cerca de 150 comentários. Entre debates acalorados sobre a validade do valor pago pelos serviços do designer e um pouco de agressividade, algumas pessoas mostraram algo complicado e que deveria ser óbvio: o nosso tão amado logo das nuvens também era plágio 🙁
Não foi por coincidência que o nosso logo favorito parecia muito melhor que os feitos nessa faixa de preço. Eles na verdade foram derivados de um template de um banco de imagens, com apenas algumas mudanças.
O que é pior. Podemos perceber EXEMPLO ATRÁS DE EXEMPLO DE SITES USANDO O LOGO!
OK! Pelo menos a segunda nuvem veio de uma ideia original, certo? Então… também não…
E o logo tosco do aviãozinho? Nah-nah… Plágio também… E com GENTE USANDO.
Neste caso, não sei qual é a vergonha maior…
Aparentemente os únicos desenhos originais foram do primeiro candidato. E que, convenhamos, são bem ruins.
Não há nada de errado em ser um designer independente que cobra barato. Também não há nada de errado em se contratar um profissional caro, assim como não há nada de errado em se comer no McDonalds e se comer num Fogo de Chão.
Mas tentar enganar pessoas usando trabalho alheio ou ilustrações de banco de imagens falando que é sua própria arte ali é algo inadmissível.
Infelizmente, esse é o tipo de comportamento que você incentiva ao levar o preço de um trabalho tão singular a uma quantia tão baixa.
Portanto, tome cuidado com o tipo de serviço que você encontra por aí. Seja ele seu mecânico, um tatuador, um programador, um profissional de social mídia ou quem vai criar os logos da sua empresa.
O barato pode sair muito caro. Como dizem os americanos, “You get what you pay for”.
Este post é dedicado a todos meus amigos designers, que estudam tanto, se entregam tanto pra produzir peças únicas e que deveriam ser mais valorizados!
Aliás, o nosso sapo quem fez foi o Paulo Pina, vale muito a pena conferir o trabalho do cara.
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