Curiosidades

Morando nos Estados Unidos: quais são as maiores dificuldades?

20 jul , 2015  


 
Apesar de todas as vantagens de se morar nos EUA, alguns problemas precisam ser levados em consideração…

Por Matheus Gonçalves

Dando sequência à nossa série “Morando nos Estados Unidos“, hoje vou falar de algo que sempre me perguntam:

Quais são as maiores dificuldades de se morar nos EUA?

Não vou citar aqui a saudade da família e dos amigos, nem a parte de se conseguir um visto, pois isso vai acontecer com quem quiser morar fora do Brasil, seja onde for. Nem a falta de atenção/informação que temos ao chegar, isso é facilmente contornável. Eventuais problemas de convivência com americanos ou dificuldades com o idioma também são tratáveis caso a caso. Quero falar de problemas grandes, que podem tornar tudo inviável.

Viver nos EUA tem sim alguns percalços, ao contrário do que alguns YouTubers brasileiros tentam vender. Eu já escrevi aqui sobre minhas primeiras impressões em um ano de residência, tantas surpresas legais e inúmeras vantagens, como a boa educação das pessoas, segurança, poder aquisitivo e cultura, bem como as desvantagens, como o pesadelo do Credit Score.

Como estou morando aqui agora há pouco mais de 3 anos, posso dizer que já deu pra descobrir algumas coisas intrínsecas à essa nação que podem ser, a longo prazo, fatores preocupantes. Aqui estão alguns deles:
 
Preços de tratamentos médicos são exorbitantes!

E para “médicos” entenda como uma generalização que engloba, por praticidade, serviços de saúde, incluindo hospitais propriamente ditos, mas também fisioterapia, psicologia, nutrição e afins.

Existem grandes diferenças em relação ao Brasil neste sentido. Primeiro porque, mesmo mal e porcamente, no Brasil temos saúde pública gratuíta. Você vai com seu RG a um posto de saúde num momento de emergência e é atendido. Depois de algumas horas? Dias? Talvez, dependendo de onde você estiver, mas é atendido.

Toda a saúde nos EUA é particular, salvo hospital de caridade ou universitário que tenha cota de atendimento gratuito. Aí você pensa:

“Ah, maravilha, paga o plano de saúde e tatu do bem, né?”

Então, não… os planos de saúde aqui são todos com co-participação. Ao menos os que seres humanos normais podem pagar. Isso significa que você vai ao médico e vai pagar um valor pela consulta. Esse valor varia de US$ 10 a US$ 60, dependendo da boa vontade do hospital ou consultório. Além disso, todos os exames são pagos em parte por você e pelo plano.

Recentemente tive que ir ao médico por conta de uma costela que eu achava que estava quebrada, culpa de um zagueiro de habilidades duvidosas. E estava mesmo, no final das contas. Fui ao médico, fiz os raios-X e fui diagnosticado. Em seguida me indicaram para ir buscar o remédio na farmácia perto de casa*. Só que aí…

 

 

Pois é, mesmo pagando um valor relativamente alto no meu convênio, eu ainda tenho que pagar valores parciais relacionados aos exames que eu fiz. Como nenhum deles é barato, mesmo a minha porcentagem é chata de pagar. Começam a vir algumas contas de US$ 40, outras de US$ 140… e assim por diante.

E não é só isso não. Como me disse o @cardoso no Twitter:
 


 
contahospital
 

SEIS DIAS DE HOSPITAL, MAIS DE OITENTA MIL FUC#$%& DÓLARES! E São vários os exemplos:

 
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Qualquer coisa em caráter emergencial fica ainda mais caro. Sofreu um acidente? Bateram no seu carro? Caiu de algum lugar? Uma mulher vai dar à luz? Não pagou tudo antes? Se vira…
 

conta3milhoes

 

Ah, esqueci de dizer, tudo isso depende de um limite máximo de valor que eles vão pagar por ano. Se você passar desse valor (vamos dizer, US$ 5 mil), você paga TODA A DIFERENÇA ACIMA DISSO DO SEU BOLSO.

Se você está vindo a passeio, vale as dicas do Amigo Gringo:
 

 
Essa indústria da saúde é assustadora, de uma forma que me faz pensar seriamente se vale a pena ficar por aqui. Meus amigos americanos cresceram dentro desse sistema, estão acostumados, juntam $$ para pagar eventuais internações quando ficarem velhos, ou simplesmente financiam o tratamento se precisarem pro resto da vida.

Mas eu não quero pagar um tratamento médico minha vida toda. Isso se meu financiamento for aprovado, lembram do pesadelo do Credit Score? Hoje eu tenho um crédito bom já, mas e quem não tem?

Ano passado eu precisei fazer um tratamento dental, que passou dos US$ 5 mil. O mesmo tratamento no Brasil me custaria R$ 700, como já conversei com amigos dentistas. Não fosse minha empresa intervir por mim, eu não teria como pagar. Isso tudo, pra mim, é um dos maiores problemas para quem quer se mudar para os Estados Unidos.
 

Em tradução livre:

Tudo que você precisa saber sobre o sistema de saúde americano é que existe uma série de TV bem popular, na qual um homem passa a cozinhar quantidades industriais de metanfetamina para poder pagar as contas do hospital.

 

* Nos Estados Unidos há alguns anos se tornou proibido dar as receitas de remédios diretamente ao paciente, pra evitar comércio de drogas. Em vez disso, você indica ao médico qual sua farmácia de confiança e eles mandam, eletronicamente, o pedido do remédio. Aí você vai até lá e pega os remédios, com os descontos do seu convênio já computados.

 
Preços de universidades de renome e cursos profissionalizantes

Não é nada raro ver famílias fazendo poupanças a vida toda de uma criança para que ela possa entrar numa faculdade boa nos Estados Unidos. E algumas crianças recebem uma pressão muito grande dos pais para serem bons atletas, conseguindo assim alguma bolsa de estudos.

O John Oliver fez um vídeo espetacular sobre a indústria da educação nos EUA. Se você entende inglês, aperte o play e confira:

Em resumo, ele critica com inigualável bom humor a situação de débito que os estudantes americanos se colocam para conseguir se formar. Alguém aí ouviu falar de FIES? Então, imagine um FIES, só que de mensalidades maiores que o aluguel de um imóvel em São Paulo, e que duram mais de 20 anos pra serem pagos, quando são pagos…
 
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À cada ano que passa, os estudantes conseguem menos dinheiro na área da qual eles estudam, com dívidas que não páram de crescer, já ultrapassando valores de cartões de crédito e fundos imobiliários!!!!!

 

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Quando eu vim para cá eu tinha um sonho de fazer uma pós graduação ou algum mestrado na área de interação humano-computador, com foco em interfaces e usabilidade, e continuo com essa meta, buscando alguma bolsa, algo assim, mas confesso que toda vez que eu vejo as possibilidades de financiamento eu vejo um pedaço desse sonho ruir.

A tempo, existem programas multiculturais de inclusão. Procure-os.

Quando eu converso com amigos daqui, que também são de alguma forma líderes de suas equipes da área de TI — quase todos estrangeiros — é consenso de que estudar tecnologia fora dos EUA é muito mais barato. Formar um programador de excelência no Brasil, Índia ou China custa muito menos que o mesmo profissional estudando na terra do tio Sam.

Isso gera um abismo de qualidade de trabalho e salários entre americanos e estrangeiros que é muito difícil de ser eliminado, pensando do ponto de vista do governo americano. E pra quem está vindo, que venha formado, ou com uma boa grana salva para terminar seus estudos.

 
Racismo e Xenofobia

Alguns lugares dos EUA ainda escondem pessoas muito racistas e xenófobas. Negros e estrangeiros não são bem vistos, nem bem recebidos por uma minoria de pessoas imbecis e preconceituosas.

Quando eu ainda morava em Richmond, na Virgínia, certa vez eu fui a um Taco Bell, que é uma rede de fast-food de comida tida como mexicana. Eu estava lá na minha comendo meu burrito e percebi que um dos três rednecks caras sentados na mesa em frente à minha não parava de me encarar. Continuei comendo numa boa, sou uma pessoa tranquila.

Do nada, ele gritou comigo e esse foi o diálogo:

– HEY VOCÊ!!!
– Eu? – perguntei.
– Sim, você!!! VOLTE PRO MÉXICO!!

Segurei a risada, me mantive sério e respondi:

– Mas eu não sou mexicano, eu sou brasileiro…
– Eu não dou a mínima para de onde você é! Volte pro seu país… You’re taking our jobs!! (Você está roubando nossos empregos)!

Aí eu comecei a rir, porque lembrei do episódio de South Park, do galo, de tudo: THEY TOOK OUR JOBS!

Vi que ele ficou ainda mais puto, e esses caras costumam andar armados, então eu peguei minha comida e fui pra casa. Nunca se sabe. Isso virou uma piada entre meus amigos, inclusive os americanos, que acharam um absurdo sem tamanho o que o redneck jovem rapaz do sul me disse. Vida que segue, mas naquele dia eu confesso que fiquei meio mal.

Poderia ter sido muito pior. Hoje mesmo li uma notícia de um xenófobo de Chicago, com passagens pela polícia por crimes de ódio, que se aproximou de um rapaz num bar e pediu por seus documentos de imigração (o que só é legal se você for um fiscal da Imigração) e sua nacionalidade.

Apesar do rapaz dizer ser da América do Sul, e não ter Green Card (nem todo imigrante legal tem green card, muitas vezes só o visto de trabalho ou turismo), esse senhor começou a gritar “Fuc#&$* Mexican” e atirou na cabeça do imigrante latino.

Assim, do nada. Então quando eu digo que poderia ser muito pior, estou falando literalmente.

Outro fator bizarro é que entrevistas de emprego são pautadas no nome do canditato. Caso seja um nome latino ou tipicamente de alguma pessoa negra, as chances de ser chamado para o cargo caem. Pessoas passaram a mascarar seus próprios nomes nos currículos para tentar ter uma chance melhor. (Fonte: CBS e Pesquisa Acadêmica)

Algo semelhante também acontece no Reino Unido, a título de curiosidade. (Fonte: The Guardian)

Além disso, a relação entre brancos e negros por aqui é surreal e, caso você seja negro, pode impactar diretamente a sua vida, principalmente se você se mudar para algum lugar do sul. Vale a pena ler todo o fuzuê que está acontecendo ao redor da Ku Kux Klan (KKK), a bandeira dos Confederados, Black Panthers.


 

 
Fico pensando até que ponto isso pode nos impactar diretamente, mas é no mínimo ridículo ver uma coisa dessa acontecendo em pleno 2015.

 
 
Soma dos fatores

No frigir dos ovos ainda vale muito a pena morar nos Estados Unidos, não tenha dúvida disso, mas tenha em mente todos esses problemas antes de vir pra cá.

E se você tiver alguma dúvida sobre qualquer um dos pontos citados, ou se tiver alguma outra dúvida relacionada ao assunto, fique a vontade para usar a área de comentários aqui embaixo.

Let’s discuss!!

 
 


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